sábado, março 24, 2007

Cores




Por: Priscila Silva Foto: http://www.lg-itzehoe.de


Num vernissage, uma jovem não contente com os quadros que está vendo, puxa conversa com um senhor logo ao seu lado.
-Nossa, os quadros estão estranhos, tão coloridos! Está fazendo com que eu fique com dor de cabeça, a grama ao invés de ser verde, é um “verde-cana”, o sol é amarelo fortíssimo, casas cor de rosa-choque, isso não é uma exposição e sim uma poluição visual!
-Jovem, desculpe-me, mas não concordo com você. No meu ver, o artista quis colocar nos seus quadros a importância que cada coisa tem em nossas vidas, e o que faz ser importante é o excesso de cor, para mostrar que estão presentes.
-Nossa, que bonito isso, que você disse, fiquei agora constrangida com tamanha gafe cometida! Obrigada pela lição.Vou indo, tenha uma boa tarde.
-Cores...Quem me dera poder vê-las novamente...
*Para os curiosos o senhor cego estava acompanhado dos seus familiares, foi á vernissage para não ficar só em casa.

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do final principalmente, imaginei q estivesse cego..eis a leitura de quem não vê, ou já viu e tem muito o que contar, interpretar ou simplesmente contemplar...eis o não saber, o descuido de muitos em não ver..cores..fascinante..ótimo dialogo pris bjaum
até a próxima coluna

PAULO GOMES disse...

Belo texto, Priscila...
A maneira como vemos o mundo, com a dosagem mais para o exagero ou mais para a felicidade de festejar com as cores, depende não dos nossos olhos físicos, mas sim pela visão que vem da alma e da alegria que estamos a sentir.
O Cego via tudo com os olhos do coração, que bela situação você criou...
Lembro-me que quando criança, perguntava a meu pai por curiosidade mesmo:
- Pai os nossos sonhos são coloridos ou em preto e branco?
(era de fato uma dúvida)
Ele dava risada. Tempos depois num cartão de aniversário ele escreveu me respondendo:
"Seja alegre e feliz que seus sonhos, assim, serão sempre coloridos"...
É por aí...

Unknown disse...

Pri, adorei o texto...
Bem profundo.. Pena que ainda tem muita gente no mundo que pode ver, e não quer enxergar a beleza da vida..

Beijoos!

Anónimo disse...

Este texto me faz lembrar algumas coisas. Primeiro, tá acontecendo aqui uma exposição de arte com quadros bastante coloridos e em relevo. Assim, muitos cegos têm acesso à arte.
Há uns três anos atrás, eu fiz uma redação em que o personagem era um pintor e que ficava cego num acidente de carro. Ele pensava que sua carreira tinha acabado, pois não poderia mais ver. Porém, percebeu que poderia fazer seus quadros em relevo, e tanto cegos como quem enxergasse poderiam apreciar sua obra.
Estou lendo -ou tentando ler- Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago. Muito bom, todos começam a ficar cegos, só que é uma cegueira branca. Vai ser filmado um longa baseado no livro, dirigido pelo Fenando Meirelles e estrelado pelo Hugh Jackman, o Volverine.
Outra coisa: tem um texto do Neruda, eu acho, em que um menino vê o mar pela primeira vez e diz Pai, me ensina a ver? É isso que acontece com as obras de arte. Sempre tem um significado por trás daquelas cores e formas.
Por último: Ano passado, teve um fórum sobre o futuro do jornalismo impresso e veio o Editor-Chefe de A Tribuna, e ficou falando que lê-se pouco jornal, que é preciso estimular as pessoas a ler, e coisa e tal, e um aluno de jornalismo, o Ismael, perguntou pra ele se eles já pensaramem fazer um jornal em braile, para cegos lerem. Ele não teve resposta. Ismael é cego.
(Tá bom, né, não quero fundar um blogue aqui)

Lotti disse...

Olá, Priscila! Sou Christiane Ruvenal, amiga de Paulo Gomes. Acho que ele já falou para você. Parabéns pelo conto, ok? Gostei. Achei a sua iniciativa de fazer um blog muito interessante, ou melhor, importante para a sua formação jornalística. Afina, só se aprende a escrever, escrevendo.
Sorte pra você...
Um bjo
Chris

Lotti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.