quinta-feira, outubro 04, 2007

A capacidade lúdica no Jornalismo



Por: Priscila Silva Foto: Alexandre Borges no Flickr

Um dos elementos mais fascinantes que o ser humano possui é a capacidade de raciocinar. Quando criança mantém um elo forte com o mundo interior e exterior de forma bastante lúdica. Não existem problemas como se a vida fosse uma brincadeira, onde quem aproveita mais é o vencedor. É algo tão puro ver uma criança brincar sem precisar se inspirar em algo ou tentar ser melhor do que o outro. Simplesmente ela busca em sua mente a criatividade que, aflora de forma natural, como também na cabeça de qualquer ser humano, basta exercitar.

À medida que a criança cresce vai deixando de lado seu jeito puro de ver a vida, o mundo interior e exterior não se encontram mais, estão cada vez mais distantes. E para se conseguir uma forma criativa de realizar qualquer tipo de atividade, acaba encontrando muitas dificuldades, pois esta busca não está sendo de forma espontânea, há uma forma forçada de se obter a criatividade.

No Jornalismo, na década de 60 e 70, no período da Ditadura Militar, os jornalistas se destacaram pela astúcia em driblar a censura imposta pelos militares. A criatividade deu o ar da graça nos chamados jornais alternativos que se caracterizaram pela oposição ao regime militar, ao modelo econômico, à violação dos direitos humanos e à censura. Conseguiam escrever o que era então “proibido” de uma forma imperceptível aos olhos dos militares. E a maioria destes eram satíricos e utilizavam muito de gravuras e charges.

Atualmente, a maioria dos jornalistas perdeu essa astúcia, essa forma de brincar com a realidade... Não brincar no verbo de não levar a sério à realidade, mas sim, brincar na sua composição em fazer um texto, uma matéria, tornar aquele momento prazeroso, fazer com que o leitor lendo aquela matéria consiga achar interessante, encontrar algo que o remeta a lembranças boas ou até mesmo resgatas momentos da infância (porque todos sentem saudades da infância) O que eles procuram fazer hoje é uma espécie de “limpeza” mental, tornar uma reportagem bastante objetiva e com respostas intelectualizadas, isso afasta o leitor, ouvinte e telespectador. Seguir aquelas perguntas básicas: Como? Quem? Onde? Quando? Porque? Não são suficiente para o leitor, às vezes um olhar mais apurado, uma folha que caiu e ninguém viu possa ser algo interessante ao invés de narrar um fato com total frieza e objetividade.

Inserindo uma gíria que as pessoas ultimamente falam, um personagem famoso de uma novela, ou até acrescentar uma cor no corpo de texto facilita a atenção do público. Brincar não irá tornar o jornalista, ou qualquer outro profissional que lide com público, um ser totalmente infantil, sem noção ou um “João-bobo”. E qual é o problema em acrescentar um pouco de criança no meio profissional?

É preciso sair um pouco deste modelo imposto pela sociedade de que as pessoas precisam ser mais maduras em suas relações pessoais e profissionais. Seria importante se as pessoas saíssem um pouco desta lista de regras (não dizendo desrespeitar as leis jurídicas), mas viver um pouco mais a alegria, brincadeira, emoção que antigamente tinham na infância. O ser humano não perde sua capacidade lúdica, ele apenas tenta esconder por inúmeros motivos. Desobedecer nem sempre é um sinal errado, como dizia Raul Seixas: “A desobediência é uma virtude à criatividade."