segunda-feira, julho 16, 2007

Três pães




Estavam trancadas e amedrontadas dentro do seu barraco, estavam esperando a volta do "homem da casa" chamado José, que havia saído para poder comprar três pães.
Mãe e filha oravam, pedindo proteção e que aquele momento passasse logo e que tudo voltasse ao normal. Pelo buraco da parede a garota viu homens fardados e armados. Um desses homens é o Marco que está na área há 10 anos sempre trabalhou da melhor forma possível, no objetivo de proteger a sociedade ao defender os inocentes e prender os criminosos. Neste dia Marco iria tirar folga, mas o delegado disse para ele trabalhar nesta favela porque lá ocorriam vários crimes. Ele ficou enraivado pelo fato de quase nunca poder estar com seus dois filhos e sua esposa que sempre cobra sua presença nos fins de semana.
José e Marco, dois pais de família estavam na rua por diferentes motivos. A esposa de José começou a ficar preocupada (mais ainda) pelo fato do marido não ter voltado, ela estava com fome, estava há dois dias sem comer. Os minutos pareciam horas, estava com um pressentimento ruim.
Marco recebe uma informação de que há um suspeito subindo as escadas rumo à rua da Piedade e que possivelmente estaria com drogas porque portava um pacote.
A filha ouviu um grito do lado de fora:- Pega esse aí, ele tá com droga no saco, atira na nuca! E deu para ouvir três tiros, assustadas as duas correram para olhar no buraco da parede para ver quem eles haviam atirado, e quando elas viram, era ele: o homem da casa, o pai, o marido, a esperança de matar a fome, morto com três tiros (dois no peito e um nas costas). Marco comemorou achando que tivera matado mais um criminoso, correu para ver o que tinha dentro do pacote, mas quando ele abriu encontrou apenas três pães, suspirou e em seguida gritou:- Míseros pães!
A esposa e a filha de José desceram as escadas, a filha foi logo na frente e ajoelhada chorou ao lado do corpo do pai, dizendo bem baixinho:- Papai, não tenho mais fome, acorda, por favor. Marco entrou em estado de choque e logo em seguida sua esposa liga para o celular:- Amor, não esquece de comprar o pão ok? Os meninos querem comer cachorro-quente.

quinta-feira, julho 05, 2007

Para sempre, Joana




Por: Priscila Silva

Num quarto e sala decorada com quadros rosas, plumas de diversas cores e um sofá verde cana mora Joana. Uma pessoa batalhadora que acorda todos os dias às 5:00 da manhã para ir ao salão de beleza, não para se embelezar e sim embelezar os outros, trabalha como cabeleireira. Ela é bastante querida no trabalho. Suas clientes são fieis e todos admiram o seu jeito de ser, de encarar a vida com bastante alegria.
Joana sofreu muito. Tudo começou na sua pré-adolescência, aos 12 anos sabia que algo de errado acontecia consigo, seu comportamento era diferente das outras crianças. Ao invés de querer jogar bola, vídeo game e brincar com os meninos na rua, Luís Henrique preferia ficar em casa, prestando atenção nos bordados que sua avó fazia, lia revistas de moda e conversava com as garotas de sua vizinhança.
Foi passando o tempo e Luís Henrique conseguiu mostrar a todos da sua família o que ele era e o que ele pensava. Assumiu a sua homossexualidade aos 20 anos quando enfim apresentou o seu primeiro namorado. Luís Henrique mudou seu nome para Joana, nome de sua avó, admirava-a pela força e garra.
Joana se tornou um exemplo de pessoa, conseguiu mudar a visão de muitos em torno do preconceito, ela provou que ser homossexual é normal e que todos deveriam respeitá-la (sempre repetia “respeito é bom e eu gosto”).
Mas, numa fatídica sexta feira, Joana resolveu ficar até mais tarde no salão. Notou que os esmaltes estavam todos fora de lugar, escovas com poeira e as plantas sem regar. Arrumando o salão, Joana ouve sua música favorita “Iolanda” de Pablo Milanés tocar no rádio, aumenta até o último volume e curte aquele momento que é só seu.
Depois de tudo arrumado, "ela" fechou o salão e seguiu rumo à sua casa. No caminho existe uma boate onde na entrada ficam vários jovens, preferiu apressar os passos porque não queria ser alvo de chacotas para os “mauricinhos”. Foi apressando os passos, achando que ninguém notava seu desconforto, até que logo à frente é abordada por três rapazes que pareciam alcoolizados, um chegou e a segurou por trás, outro vasculhou sua bolsa e o último possuía um revólver calibre 38, que ameaçava atirar se ela gritasse. Joana estava em pânico e pedia para que eles deixassem ela ir embora, poderia levar tudo, ela acabara de receber seu salário nesse mesmo dia, mas eles não queriam nada, queriam zombar, xingar e humilhar Joana.
O que estava armado ficava brincando dizendo que ia atirar, fechava os olhos e mirava ao léu, até que de repente ele atirou e atingiu a testa de Joana, o rapaz que segurava Joana gritou “Cara, você matou o viado!” Mais do que depressa os três rapazes saíram de lá correndo. Joana após receber o tiro, caiu no chão sujo e com o impacto do seu corpo no chão partiu seu colar de pedrinhas azuis. Entre o vermelho do sangue e o azul das pedrinhas, Joana se destacou.