quinta-feira, julho 05, 2007

Para sempre, Joana




Por: Priscila Silva

Num quarto e sala decorada com quadros rosas, plumas de diversas cores e um sofá verde cana mora Joana. Uma pessoa batalhadora que acorda todos os dias às 5:00 da manhã para ir ao salão de beleza, não para se embelezar e sim embelezar os outros, trabalha como cabeleireira. Ela é bastante querida no trabalho. Suas clientes são fieis e todos admiram o seu jeito de ser, de encarar a vida com bastante alegria.
Joana sofreu muito. Tudo começou na sua pré-adolescência, aos 12 anos sabia que algo de errado acontecia consigo, seu comportamento era diferente das outras crianças. Ao invés de querer jogar bola, vídeo game e brincar com os meninos na rua, Luís Henrique preferia ficar em casa, prestando atenção nos bordados que sua avó fazia, lia revistas de moda e conversava com as garotas de sua vizinhança.
Foi passando o tempo e Luís Henrique conseguiu mostrar a todos da sua família o que ele era e o que ele pensava. Assumiu a sua homossexualidade aos 20 anos quando enfim apresentou o seu primeiro namorado. Luís Henrique mudou seu nome para Joana, nome de sua avó, admirava-a pela força e garra.
Joana se tornou um exemplo de pessoa, conseguiu mudar a visão de muitos em torno do preconceito, ela provou que ser homossexual é normal e que todos deveriam respeitá-la (sempre repetia “respeito é bom e eu gosto”).
Mas, numa fatídica sexta feira, Joana resolveu ficar até mais tarde no salão. Notou que os esmaltes estavam todos fora de lugar, escovas com poeira e as plantas sem regar. Arrumando o salão, Joana ouve sua música favorita “Iolanda” de Pablo Milanés tocar no rádio, aumenta até o último volume e curte aquele momento que é só seu.
Depois de tudo arrumado, "ela" fechou o salão e seguiu rumo à sua casa. No caminho existe uma boate onde na entrada ficam vários jovens, preferiu apressar os passos porque não queria ser alvo de chacotas para os “mauricinhos”. Foi apressando os passos, achando que ninguém notava seu desconforto, até que logo à frente é abordada por três rapazes que pareciam alcoolizados, um chegou e a segurou por trás, outro vasculhou sua bolsa e o último possuía um revólver calibre 38, que ameaçava atirar se ela gritasse. Joana estava em pânico e pedia para que eles deixassem ela ir embora, poderia levar tudo, ela acabara de receber seu salário nesse mesmo dia, mas eles não queriam nada, queriam zombar, xingar e humilhar Joana.
O que estava armado ficava brincando dizendo que ia atirar, fechava os olhos e mirava ao léu, até que de repente ele atirou e atingiu a testa de Joana, o rapaz que segurava Joana gritou “Cara, você matou o viado!” Mais do que depressa os três rapazes saíram de lá correndo. Joana após receber o tiro, caiu no chão sujo e com o impacto do seu corpo no chão partiu seu colar de pedrinhas azuis. Entre o vermelho do sangue e o azul das pedrinhas, Joana se destacou.

3 comentários:

Pablo Reis disse...

brutalidade, intolerância e estupidez, eis os ingredientes de uma receita de morte.

Arllen Alves disse...

Priska, achei o texto excelente (pra variar né, kkkkk). Você conseguiu comentar acerca de vários assuntos da realidade com poucas palavras. Nem todo mundo consegue hein?
Parabens!

Anónimo disse...

Adorei seu texto sobre Joana, principalmente no final aonde demonstra quem é o verdadeiro ser humano com todos os “defeitos”. Lembrou-me muito do livro de Clarice Lispector, A Hora da Estrela, em que a pessoa se torna alguém importante.
Tem o lado do preconceito e da impunidade contra estas pessoas que se dizem importantes no meio social, contudo não passam de simples bandidos e assassinos onde tem que ficar na cadeia.
Outro ponto muito interessante é quando você escreve do que Joana sempre dizia, “respeito é bom e eu gosto”, porque as pessoas devem aprender a respeitar o próximo mesmo com preconceito daquele individuo seja homossexual, alto, baixo, loiro, ruivo, olhos azuis, castanhos, negro ou branco.

Beijocas
Marcio Sato