domingo, abril 13, 2008

Quem disse que a Bahia é só felicidade?



Ó paí, ó
O filme é mais do que um olhar crítico

Por: Priscila Silva

Para quem ainda não assistiu o filme, deduzindo que conhecia tudo sobre a Bahia e o seu produto de exportação, o carnaval, está muito enganado. Muitos comentários do tipo: “não recomendo o filme” “morri de rir, muito bom!” E até “sem graça, pensei que fosse melhor”. Resumindo, vários comentários sendo eles ruins e bons. Mas, o filme surpreende a quem assiste. Rico em música baiana, gírias, culinária, brincadeira, rivalidade entre religiões e muita confusão a diretora Monique Gardenberg decidiu trazer a peça “Ó pai, ó” realizada pelo Bando de Teatro Olodum no Teatro Vila Velha que fica em Salvador, para o cinema. A história se passa num cortiço situado no Pelourinho, onde habita várias “figuras” dentre elas: mãe de santo, evangélica, travesti e por aí vai...Depois da revitalização do Pelourinho, os moradores sofrem com as transformações e conseqüentemente com a “invasão” de turistas, que por um lado beneficia (lucro e comércio) e por outro lado exclui-os (exploração de diversas formas). Tudo isso é mostrado na semana de carnaval, com cenas engraçadas e marcantes mostra a triste realidade, que muitos (não somente os baianos) não vêem. É necessário dizer: Ó PAÍ, Ó para o que está acontecendo? Será que as pessoas não conseguem ver que cada dia que passa a desigualdade social aumenta? Que muitos morrem por não ter dinheiro? Que muitos morrem pelo fato de ser diferente em relação a sua raça? O filme Ó Pai ó é uma denúncia a triste realidade do Pelourinho que sofre pelo fato da força “embranquecedora” agir no local.
O filme que para muitos seria uma comédia, mostrando a tão famosa alegria do baiano, aquela alegria que é exportada (devido ao carnaval) chocaram-se ao ver que existe outro lado...Não só de alegrias vive Salvador. Na avenida onde muitos desfilam com seus abadás caríssimos, onde os camarotes cada dia que passa tomam mais espaço da avenida deixando a massa de gente, a tão conhecida como “pipoca” mais espremida do que bagaço de caldo de cana, também abriga miseráveis, prostitutas e crianças abandonadas. Onde o turismo esperado por muitos, destrói e conturba a vida dos moradores. Como é o caso do personagem Seu Jerônimo interpretado pelo ator Stênio Garcia, que é um comerciante de uma loja de objetos antigos no Pelourinho, que tenta de qualquer forma afastar os meninos de rua para melhorar a visita dos turistas á sua loja. O elenco é bem formado dou destaque para dois atores: Lázaro Ramos, que interpretou o personagem “Roque”, um homem que tem o sonho em ser cantor e que se vira como pode para driblar a falta de dinheiro e a personagem “Dona Joana” interpretada pela atriz Luciana Souza que é evangélica fervorosa, que se diz dona do cortiço, vive fuçando a vida alheia e que é mãe de Cosme e Damião.
Quem gosta de boa música não irá reclamar do filme, a trilha sonora cantada por vários artistas baianos como Jauperi, Tatau, Fechine e entre outros se encaixa perfeitamente com cada cena...Uma das músicas cantada por Jauperi “Canto do mundo”, cuja composição é de Caetano Veloso expressa a triste realidade do Pelô: “Presse canto do mundo/De onde é que ele virá /Do meu sonho profundo/Ou do fundo do mar/ Com que voz cantará/Com que luz brilhará/Há de vir seja como for/Presse canto do mundo/De onde virá o amor? /Nessa vida vazia /Por que tarda meu bem? /Uma imensa alegria /Que se guarda pra quem? Seja um anjo do céu /Seja um monstro do mar/Venha num disco voador/Mas que saiba que é meu/No segundo que olhar/Pelo encanto maior/Presse canto do mundo/Quando virá o amor? /O meu amor... /O meu amor...”.Um filme pra reflexão tanto serve para os donos de camarotes tanto para os catadores de latinhas.